Recomendo ler as postagens Conhecimentos técnicos e Técnica para animar antes desta.
Uma vez definido que a
técnica para animação seria o recorte digital e que os personagens seriam
construídos como uma espécie de colagem (fotografias de objetos distintos), comecei
a pensar em um método de captura dessas imagens e organização do material que
seria necessário.
A informação que eu tinha
sobre esta técnica até então era de que, para animar, eu deveria ter a postos
uma "biblioteca" de poses variadas dos membros que compunham um
personagem, de modo que ele pudesse executar os movimentos mais livremente. A
troca de poses de um mesmo membro (como para fazer a cabeça girar de um lado para
o outro) chama-se replacement. E consiste
em substituir poses em sequência para causar a ilusão do movimento. Na verdade
é possível animar recortes sem utilizar o replacement,
não é uma regra. O resultado, porém, é bem diferente. Optei por utilizá-o
porque os personagens não teriam expressões faciais e a linguagem corporal
seria extremamente importante para compor as atuações, portanto, quanto mais
fluidas fossem, melhor.
Os personagens foram
compostos por 5 partes móveis: cabeça, chapéu, pescoço, tronco e tripé (confira aqui). Foi preciso analisar muitas vezes o animático para identificar quais
posições de cada uma dessas partes seriam necessárias para compor os movimentos
esperados, ou pelo menos a maior parte deles. Dessa forma, percebi que a maior
parte das poses se dava em ângulos em torno do eixo vertical, o que facilitou
bastante as coisas. Elaborei um método para marcar as poses, de modo que cada
ângulo fosse coincidente entre os elementos. Como eram objetos distintos e
desproporcionais entre si, essa organização foi bastante útil. Posteriormente,
foi necessário apenas colocar cada peça na escala devida.
De um modo geral, o
esquema de registro das poses funcionou muito bem. Vale a pena um comentário a
respeito da cor utilizada no fundo da foto. A escolha foi bastante
empírica. Sem conhecimentos
específicos de como iluminar bem o set para esta situação, acabei criando um
reflexo verde na superfícies dos objetos que, infelizmente, só percebi na fase
de tratamento e recorte das fotos. Retirá-lo foi um trabalho a mais. Foram
muitos os detalhes para eu me concentrar no momento de fazer as fotos, que este
acabou passando despercebido. Acredito que um fundo mais neutro, com a
iluminação utilizada da mesma forma, dispensaria o tratamento de cor e não
comprometeria tanto o recorte.
Apenas uma pose de cabeça
e objetiva precisou ser refeita. A necessidade de repetir a foto só foi notada
depois que a foto do cenário já estava pronta e eu já havia terminado as
atividades no estúdio. Foi um desafio refazer este registro fora do estúdio,
sem as marcações originais e ter que acertar o ângulo e a luz para que não
destoasse tanto da perspectiva e da luz da cena. No fim das contas, acho que
funcionou bem porque aparece por um rápido momento. Eis o registro do processo:
Essa foi uma das situações
que a Marília Poggiali já havia me alertado quando conversamos sobre a produção do filme
dela: depois que os backgrounds de cada cena estavam definidos, seria possível
constatar limitações de movimentos imprevistas para os personagens e, talvez
fosse preciso adaptar a atuação. Dito e feito. Esse aí é apenas um exemplo das
adaptações que foram necessárias.
Por último, mas não menos
importante, devo dizer que planejar um personagem em desenho, pré-visualizar a
sua atuação em 3d e configurá-lo definitivamente em recorte de fotografias,
causou uma certa estranheza em sua aparência. Um pouco frustrante até, porque
cada técnica possui uma força expressiva intrínseca e seria impossível (neste
caso) transpor detalhes de uma para a outra. Ao final da montagem do personagem, confesso que não me
atraiu muito o novo visual, principalmente do personagem Micro. Foi durante a
fase de tratamento dos cenários que eu tive tempo de deixar passar a
"depressão pós-parto" e ver que eles tinham a ver com aquele ambiente
- que também acompanhou as mudanças de técnica.
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